Charleston Chaves – CCG RJ
Durante muito tempo, pelo que dizem os criadores mais vividos e que puderam ver a explosão da criação de Guppy na década de 80 no Brasil, conseguir, naquela época, um bom casal de Guppy que pudesse render bons descendentes era tarefa difícil, uma vez que muitos desses criadores, que vendiam seus peixes ou os muitos dos guppies que chegavam ao Brasil fruto de importação, vinham com fêmea trocada ou hormonada, o que inviabilizava a manutenção da linhagem adquirida. Embora com muitas dificuldades, bons criadores daquela época obtiveram êxito em suas criações e conseguiram levar à frente o hobby. Um fato é certo: havia, segundo testemunhas da época,enorme dificuldade de obter sucesso para os recém-criadores por alguns motivos: primeiro, por ser pouco conhecido o “perfil genético” da linhagem adquirida; segundo, porque muitos criadores guardavam “segredo” das informações obtidas, dificultando assim a ampliação do hobby.
Passada essa época, ainda mais com a popularização da INTERNET a partir do final da década de 90, ficou mais fácil conseguir informações na rede sobre manutenção e seleção das linhagens por suas características genéticas. Isso mudou consideravelmente o perfil do criador nacional (ou pelo menos da maioria) que, motivado pela variabilidade genética do Guppy e pela inserção cada vez mais de informações, deram um caráter mais sério no que se refere à manutenção de guppies de qualidade com cruzamentos para obtenção de resultados cada vez mais satisfatórios.
Entretanto, hoje, vê-se, por toda parte, pessoas criando guppies, mas nem sempre buscando seleção. (Claro que há exceções!) Talvez motivados pela existência daquela linhagem na mão de algum outro criador e, por isso, se perdê-la, haveria a quem recorrer, nem sempre se motivam a manter, com qualidade, aquele tipo de peixe. Alguns ao ler este artigo poderão dizer: “Mas isso não é um exagero? Vários hoje criam FULL RED e, assim, um guppy que era difícil de achar no Brasil, hoje é fácil de comprar em diversos lugares?” Agora, o que muitos iniciantes do hobby não se perguntam ou não percebem é a qualidade das linhagens que adquirem. Vamos comentar o exemplo do próprio FULL RED. Será que todos os “full red” que adquirimos são realmente “full”? Que melhorias o criador que possui esta linhagem está fazendo para aperfeiçoar seu plantel para mantê-los vermelhos e com distribuição da cor não só no corpo como nas nadadeiras, além de outras categorias como intensidade, por exemplo? Um criador de guppies vermelhos (seja full red, red head, gold red...) precisa ter várias linhas diferentes de cada linhagem e eventualmente buscar de outro criador idôneo, e com os mesmos critérios sérios de seleção, material genético para aperfeiçoar suas linhagens.
Muitas vezes ouvimos de diversas pessoas que “criação de guppy é seleção” e não estão errados em dizer isso, mas será que sabemos selecionar como devemos? É necessário um ideal a ser alcançado, um referencial a ser pautado para se fazer uma seleção. Fala-se muito em seleção, mas selecionar como, se muitos não sabem um padrão? Daí a importância também dos concursos e dos padrões de julgamento. Em todo o mundo há alguns padrões para que os criadores que visam ao aperfeiçoamento do peixe possam se pautar para fazer seus futuros cruzamentos e avaliar o plantel que tem em sua estufa. Mesmo que os padrões europeus, americanos e asiáticos sejam um pouco diferentes, todos não são tão díspares quando se fala em cor (red, full red, hb blue, hb green...),forma (caudal em delta bem aberta, dorsal grande e compatível com o tamanho da caudal, corpo forte para suportar o tamanho da caudal...) e tamanho (peixe forte, grande e proporcional ao tamanho da caudal...) são fatores que devem ser levados em consideração na seleção de futuras matrizes. É importante saber também que características possuem a linhagem que está sendo adquirida para se manter o padrão e se ela já está sendo adquirida dentro de um padrão aceitável ou falta muito para se chegar a um peixe bom e que possa transmitir à maioria de seus descendentes as características desejáveis para aqueles guppies.
Este artigo ainda é o primeiro que discutirá sobre seleção dos guppies, sem obviamente extinguir o assunto e sem ter a pretensão de ser o dono da verdade, mas visando esclarecer certos assuntos para criadores novos (que estiverem interessados em ter guppies com qualidade) e que os criadores mais experientes (meus amigos) tenham possibilidade de opinar e que amadureçamos juntos em relação a esse contexto. Por isso, falemos um pouco mais sobre a categoriaORIGEM DAS LINHAGENS para seleção. Como disse antes, o criador que deseja escolher uma linhagem para criar deve conhecer o padrão dela. Na verdade, para cada linhagem (RED, FULL RED, HB BLUE, GALAXY, HB GREEN. GREEN...) deve–se ter mais de uma linha dentro de cada linhagem. De preferência, cada linha deveria ser de criadores diferentes, ou seja, cada linha de GREEN que um criador X tem em sua estufa deveria ser de origens diferentes (distantes geneticamente entre si). Ex.: linha 1(criador a), linha 2 (criador b), linha 3(importação dos EUA), etc. Isso é importante porque do ponto de vista genético haverá em sua estufa um grupo de genes diferentes e distantes o que possibitará que aquele criador X tenha possibilidade de fazer cruzamentos entre as linhas dentro da própria linhagem (linebreeding) buscando aperfeiçoar geneticamente seu plantel. Por exemplo, digamos que a linha 1 seja excepcional de corpo, mas a cor verde seja fosca, alguns filhotes tendendo ao azul; já a linha 2 possui um verde brilhante ótimo, mas o tamanho já não é tão bom. O cruzamento entre essas duas linhas pode resultar em futuras matrizes boas não só no tamanho, mas também na cor. É claro que para estabilizar o novo padrão, fruto desse cruzamento entre linhas, será necessário nova seleção a fim de escolher os melhores dentre os filhotes, que serão futuras matrizes. Paciência é uma virtude imprescindível para quem quer criar guppy de qualidade.
Ás vezes, alguns criadores possuem uma boa linha de uma determinada linhagem, mas só uma linha e por melhor que ela seja, para se manter ao logo do tempo com qualidade em cor, tamanho, formato será necessário cruzar com outra (de preferência dentro de uma compatibilidade genética). Lembremo-nos de que o guppy que nós conhecemos hoje é um peixe geneticamente diferente em relação ao seu ancestral no que se refere às características adquiridas com o tempo por conta do trabalho de muitos criadores espalhados pelo Brasil e pelo mundo e esse peixe só existe com essas características atuais e variabilidades de genes, porque nós o criamos, e isso é uma responsabilidade muito grande. Um outro exemplo: quem deseja possuir HB BLUE de qualidade deve ter em seu plantel não só outra linha de HB BLUE, pelo menos, mas também linhas de BLUE. Ambas linhagens são compatíveis e, por esse motivo, devem ser criadas juntas para se obter êxito na criação. Cruzar um macho BLUE e uma fêmea HB BLUE resultará em HB BLUE melhor na F1.
Nota-se que o ideal é o criador possuir algumas linhagens e linhas e trabalhá-las em vários aquários para realmente melhorarmos os guppies que possuímos. É bem verdade que, motivados pela paixão, deixamo-nos enveredar pelo desejo de obter mais uma linhagem e mais uma, e mais uma... e muitas vezes com isso sacrificando o espaço de que dispusemos para desenvolver algumas que tínhamos elegido como aquelas que iríamos criar. O principal é que não nos percamos e sim selecionemos adequadamente nossas matrizes para que possamos manter ótimo material genético e guppies cada vez melhores. No próximo artigo, vamos discutir um pouco mais sobre como selecionar algumas linhagens específicas.
Grande abraço
Charleston
ARTIGO 2
HB PASTEL - DICAS NA CRIAÇÃO
A criação de HB PASTEL, uma das minhas prediletas, constitui-se como uma das mais interessantes, não só pela beleza como também pelo desafio que proporciona na intenção de purificá-la cada vez mais tendo como objetivo maior a exposição em show.
Primeiramente, uma das maiores dificuldades é conseguir o tão cobiçado tom pastel, até porque o que se observa na maior parte das linhagens é um tom amarelado enfraquecido, que não corresponde nem ao HB YELLOW (porque aparece uma cor fosca e não um amarelo intenso, que deve ser característica do YELLOW) nem ao HB PASTEL propriamente dito, que deve tender ao branco; ou seja, sendo brancas as nadadeiras, melhor é a qualidade do peixe, já que esse fator é recessivo, e conseqüentemente melhor será o desempenho alcançado por esse em um show.
Outro ponto interessante é em relação à dorsal. Como essa linhagem em uma exposição concorre na categoria delta, pelas regras da IFGA, a dorsal deve ser 3:1, isto é, 3 de comprimento por 1 de espessura. Entretanto, muitos machos não apresentam essa característica, exigindo do criador uma rigorosa seleção de matrizes para que esse fator seja fixado. O que se vê, na maioria das vezes são peixes com uma dorsal fina e alongada demais; esses peixes precisam ser descartados, sem compadecimento, para se alcançar os objetivos desejados.
CHARLESTON
Além disso, a seleção das fêmeas é também de suma importância. Quanto maiores, mais fortes e com pedúnculos mais espessos, certamente são matrizes bem selecionadas. O que não se pode esquecer é que quanto mais brancas forem suas nadadeiras, maior é a segurança de conseguir a fixação do padrão HB PASTEL. Outro dado é a escolha das fêmeas com boa marcação HB, para que esse aspecto seja seguramente transposto aos machos, com um índice menor de diluição.
Então, observemos o esquema:
FÊMEAS: pedúnculo espesso + cauda / dorsal brancas + boa marcação HB no corpo
MACHOS: nadadeiras brancas + cauda em delta + dorsal 3:1
Fonte: http://www.guppyrio.com.br/pagina440.htm
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